O primeiro-ministro confirmou esta noite, numa declaração ao país, que apresentou a sua demissão ao Presidente da República, na sequência do chumbo do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) no Parlamento por todos os partidos da oposição.
«Apresentei agora mesmo ao senhor Presidente da República a demissão do cargo de primeiro-ministro», começou por dizer, «consciente da seriedade da situação». Sai ao fim de o fim de seis anos de governação polémica.
José Sócrates sublinhou que a crise política «é inoportuna, porque surge na véspera de uma cimeira decisiva para Portugal e para a Europa».
«Uma crise política neste momento tem consequências gravíssimas sobre a confiança que Portugal precisa ter junto dos mercados e das instituições internacionais», disse.
Portugal precisava de uma voz forte na cimeira e chega enfraquecido
Lembrando que o PEC chumbado pela oposição «tem o apoio inequívoco da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e dos parceiros europeus», o demissionário primeiro-ministro lamentou que o trabalho dos últimos meses tenha sido «deitado por terra por mero calculismo político. Aqueles que causaram esta crise política são a partir de agora responsáveis pelas suas consequências».
«Portugal precisa de ter uma voz forte na cimeira», defendeu. Em vez disso, «hoje acrescentaram-se dificuldades políticas às dificuldades económicas».
José Sócrates explicou que «desde há vários meses tenho lutado por um propósito que considero fundamental: defender o país de recorrer a ajuda externa para não cair na situação da Grécia e da Irlanda» e elencou as «consequências profundamente negativas de um programa de ajuda externa», que vão dos efeitos na «imagem, prestígio e reputação nacional», ao impacto para as pessoas e famílias e também para as empresas. «Basta ver o que se passa com os países que recorreram a essa ajuda para ver que são tomadas medidas mais duras de austeridade e contenção», disse. Medidas que podem mesmo incluir um aumento de impostos.
«Hoje o país perdeu»
Para o chefe do executivo, a crise politica era evitável com diálogo, e desnecessária, uma vez que nem sequer havia obrigatoriedade de se votar o PEC no Parlamento.
«Há quem pense que hoje venceu. Estreiteza de vistas! O que aconteceu hoje não tem a ver comigo nem com o Governo. Tem a ver com o país e hoje o país perdeu».
Apesar de o primeiro-ministro ter pedido demissão, «o país não ficou sem Governo. O Executivo cumprirá o seu dever consciente do que é possível a um Governo de gestão», disse ainda, acrescentando que a palavra foi agora devolvida aos portugueses e que se submeterá à votação dos eleitores.
Quem também se declara pronto para ir a votos é o líder do PSD, Passos Coelho. E Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda, promete dar luta. Já o PCP diz que a vítima no meio disto tudo é o povo português. E o CDS afirma que Sócrates «não estava a prestar um bom serviço».
O PS responde com a manutenção de Sócrates: «é continuará a ser o nosso líder».
O presidente do Eurogrupo já avisou que, tendo este PEC chumbado, o país terá de apresentar outro, em que as medidas podem não ser as mesmas, mas em que a meta de défice se mantenha.
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